domingo, 15 de janeiro de 2012

Se opinião fosse bom, ninguém botava em blog. Vendia no Mercado Livre.

Primeiramente quero dizer que esse post é a expressão de uma opinião. A minha, no caso. Apesar de estar na internet, que é de acesso público, esse blog é pessoal e reflete opiniões pessoais.
Não é um ataque específico a alguém. Não é um ataque específico a algum caso ou acontecimento.
Se você não concorda com minha opinião ou viu que eu não concordo com a sua, isso não quer dizer que eu estou brigando com você ou te atacando diretamente. Só quer dizer que nós pensamos de forma diferente.
Eu até gostaria de ter um debate aqui nos comentários. Mas debate entendido como 'troca de opiniões e experiências' e não briguinha. Porque essas briguinhas do 'mundo humanizado' já deram no saco...


Hoje li um texto sobre a questão da mulher ter ou não o direito de de escolher entre parto normal ou cesárea. Já li trocentos mil textos sobre isso, essa discussão nunca vai chegar em um acordo e minha opinião não vai mudar merda nenhuma. Mas resolvi pensar um pouco sobre o que eu penso. Afinal, eu sempre vi opiniões de tudo quanto é lado, mas nunca tinha fechado na minha cabeça o que eu penso de tudo isso.

E a resposta, para mim, é SIM. E NÃO.

SIM
A gente sabe que a cesárea é uma cirurgia que existe para casos de necessidade. Existem situações que, após ponderar os prós e os contras, a escolha pela cesárea não deveria ser condenável. Um problema de coração que pode ser um complicador no parto normal (caso da autora do texto que eu li), placenta prévia, bebê pélvico, violência sexual... Em todos esses casos a mulher deve pensar em quais riscos prefere correr e quais prefere evitar e a cesárea é uma alternativa totalmente válida.
Mas, mesmo não sendo mais a protagonista efetiva do nascimento do seu filho, essa mulher tem como obrigação fazer com que esse nascimento seja o menos agressivo possível. Ela tem obrigação de esperar o trabalho de parto, que sinaliza que a hora de nascer é aquela (salvo as ocorrências médicas em que o próprio início do trabalho de parto não é indicado - existe isso?). Tem obrigação de escolher uma equipe que vai tornar aquele ato médico o mais familiar possível: que vai receber o bebê com delicadeza, que vai permitir que ele vá imediatamente para o colo da mãe, que estimule a amamentação, que respeite coisas simples como uma luz baixa, pouco barulho, procedimentos médicos feitos com calma e junto à mãe. Tem obrigação de conhecer quais são esses procedimentos e garantir que intervenções desnecessárias não sejam feitas com seu bebê.
Ou seja, até aceito a cesárea por escolha, mas não aceito a cesárea marcada com antecedência e a falta de interesse da mãe em tentar melhorar a experiência para o filho.

NÃO
Fora daquelas situações onde a cirurgia é uma indicação real, eu ainda não consegui ser convencida de que é direito da mulher optar por uma cesárea. Isso pode soar falta de compaixão com a causa feminina. Mas juro, não consigo.
Se fosse um caso de, por exemplo, problema de vesícula, a mulher, dona do corpo, teria total e absoluto direito de decidir se iria operar ou optar por outros tratamentos. Afinal, o corpo é dela, o risco de saúde é dela. Mas, no caso da cesárea, só se fala no direito da mulher e no corpo da mulher, mas se esquece que existe uma outra pessoa envolvida. Uma pessoa que ainda não nasceu, que não expressa suas opiniões e que depende totalmente de quem vai tomar a tal decisão. Mas ainda é uma pessoa. E é aí que eu acho que o direito da mulher acaba. Seu direito acaba onde começa o do outro, lembram?
Muito se diz sobre a violência contra crianças. A palmada é condenada, busca-se cada vez mais punir aqueles que agridem menores, a opinião pública cai matando contra pedófilos. Mas por que só se pensa na violência contra a criança depois que ela já nasceu? A cirurgia que é marcada por capricho - uma data bonita na certidão de nascimento, nascer no período que os avós estão na cidade, gostar do signo X e não do Y - é uma violência sim. É uma agressão. A criança é retirada à força, sem dar sinais de que está pronta, e acaba muitas vezes indo parar em UTIs neonatal. Os médicos manipulam o bebê como se fosse um pedaço de bife. Procedimentos totalmente desnecessários são feitos em um ser que acabou de vir ao mundo. Ele sente medo, dor, sofre. Por que não seria violência?
Muitas vezes ouvi que o parto normal não é para qualquer uma, que tem mulher que não aguenta a intensidade do parto. Depois que tive a Ju concordo que o parto é absolutamente intenso, que é uma experiência que mexe muito com nossa cabeça, que nos faz vivenciar nossas emoções mais profundas. E não tem como se preparar para isso. E isso assusta. Mas também não nos dá o direito de fugir da experiência. Perder um ente querido, descobrir uma doença grave, ganhar na loteria, se apaixonar também são experiências que fazem a gente conhecer outras faces de nós mesmos, amadurecer rapidamente, enfrentar um monte de coisa. E muitas vezes não tem como escolher, simplesmente acontece. Na minha cabeça, a partir do momento que a mulher engravidou, ela meio que já tem que saber (e aceitar) que vai passar pela experiência do parto. E aproveitar para crescer com isso.
E nem vem me falar de medo de dor. Porque não aguento ouvir mulher falando que morre pelo filho mas que não topa sentir a dor do parto. Se ficar insuportável (o que pode ser que nem aconteça se a mulher tiver apoio de outras pessoas e, principalmente, dela mesma), existe anestesia. Não precisa ir pra faca antes do parto começar só pra garantir.


Sei que cada caso é um caso, que cada um tem sua história, que não tem como saber da vida de todo mundo. Sei que cada um enfrenta e encara a dor de uma forma diferente. Sei que nem toda experiência de parto é boa, que os partos frank normalmente deixam mais traumas e dores do que a cesárea. E que é importante a mulher estar bem para cuidar do filho, pois o pós parto já é complicado demais sem traumas, com traumas pode ser desastroso.
Sei também que para a população mais carente o parto frank é uma realidade e que é um desejo genuíno conseguir pagar o plano de saúde direitinho para garantir uma cirurgia que, por mais incrível que pareça, vai ser mais respeitosa do que a fila da maternidade do SUS.
Concordo com tudo isso. Mas não consigo ainda me convencer de que a melhor saída é a cesárea.
Eu era uma daquelas gestantes que sempre quis parto normal, mas não sabia como a coisa funcionava, e que estava não mão daquele médico-legal-que-vai-tentar-o-parto-normal-mas-não-garante. E, no fim, mudei meu desejo (de parto normal eu passei a querer parto respeitoso para mim e para a Ju), mudei de médico, mudei o local do nascimento (sem planos, mas mudei).
A melhor saída, pra mim, é a mulherada ir atrás do que é seu. Difundir a informação de qualidade para todas, exigir mudanças na classe médica, exigir acesso ao atendimento de qualidade. Mas não é a cesárea marcadinha na agenda.

Um comentário:

  1. Ericka, enquanto os filhos forem propriedade, outros seres humanos se acharem donos uns dos outros, é assim que acontece... nem me revolta mais quem faz cesárea eletiva, me revolta é aquela mulher que engravida, tem o filho por mero capricho e o deixa na mão da babá pra criar, mal sabe o tamanho do sapato que a criança usa, do que gosta, nem nada... isso me revolta ainda mais... Mais do que as mães que tem psicose pós parto e jogam o filho fora, porque é doença, as mulheres que tem filhos por vaidade ou obrigação estão conscientes e sabem o que estão fazendo.

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