quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Um tijolinho de cada vez

Uma vez li por aí (acho que foi no Mamíferas) que não existe aquele momento sublime que marca o grande ensinamento do pai/mãe para o filho/filha. Que os ensinamentos acontecem a cada dia, todos os momentos, com os erros e acertos dos pais. Sábado foi um dia que me mostrou exatamente isso.
Saímos a manhã toda com a Ju, almoçamos na rua e, na volta, ela dormiu no carro. Era o planejado, assim ela dormiria no horário certo. Só não contávamos com a possibilidade dela acordar ao ser tirada do carro e não voltar a dormir. Eu fico FRUSTRADÉZIMA quando isso acontece. Quer me ver brava que nem o cão é não me deixar dormir (sim, eu ia tirar um cochilo junto com ela). E, como ela é minha filha, também não é a pessoa mais bacana do mundo quando está com sono. Imagina o clima que imperava na nossa humilde residência.
A menina fez cocô, não queria trocar nem com reza. Eu com aquela paciência que deus me deu. Acabei segurando, tentando trocar a força, ela gritando, se virando, forte pra burro. Eu dei uma espécie de 'chacoalhão', ela assustou e começou a chorar de verdade.
Não foi o bater clássico - levanta-a-mão-e-dá-um-tapa - mas, na minha cabeça, foi. Me sinto um lixo, me odeio com toda a força da humanidade. Tentei não piorar a situação dando muita atenção pro fato, com um 'Aaaaiiii, filhiiiiinha, descuuuuuulpa! abraço-beijo-colo', porque acho que isso não resolve o problema e o trata como se fosse banal. Continuei trocando a fralda, mas calada, já me controlando, com um nó na garganta e outro no peito. Só depois que consegui terminar de trocar, peguei ela no colo e expliquei, pedi desculpas e o escambau. E fiz tudo isso achando que não adianta porra nenhuma.
Que ódio de mim! Eu sou a adulta, eu tenho o controle, eu que devo mostrar o que está certo e errado. E faço ISSO?
Mas nada como o tempo, né? Oportunidades de agir diferente, de melhorar, nunca vão faltar. Então chegou a hora de dormir. E começou a enrolação de sempre. Ela pediu pra nanar, mamoumamoumamoumamou, não conseguiu, se levantou, foi pra sala, começou a andar pela casa. Nitidamente com sono, bravamente lutando contra ele.
Eu mantive a casa escura, disse que era hora de dormir. Ela foi para a cozinha e pediu um pedaço de papel toalha para limpar alguma coisa (de vez em quando baixa o espírito da Amélia). E eu, calmamente, desci na altura dela e disse que não ia dar, que aquela era a hora de dormir. E ela chorou. Chorou, deitou no chão, chorou, se jogou, chorou. E eu continuei da lado dela, dizendo que não daria o papel, que entendia o que ela queria, mas que não daria por não ser hora de brincar. E ela chorando.
Tentei fazer carinho e ofereci colo, ela não quis, estava muito brava. Então eu disse que ela poderia ficar brava comigo, que nao tem problema sentir isso, e que eu iria ficar na sala para não incomodá-la e esperar o momento que ela quisesse meu colo. Fui, sentei lá um pouco, e voltei (não aguento muito tempo). Novamente ofereci colo, ela aceitou, ainda chorando de frustração. Sentamos no sofá, ela mamou chorando um pouco, mas mostrando que entendeu que, apesar de não dar tudo o que ela quer, eu sempre darei apoio para ela afogar as frustrações, raiva e todos os sentimentos que vierem. Mamou e dormiu em seguida.
Fiquei TÂO feliz! Lidei exatamente da forma que eu gostaria de lidar com todas as crises. Vi que eu sou capaz e que essa abordagem só tem vantagens para nós duas, diferente da outra que 'experimentamos' antes. Mas principalmente me perdoei pelo deslize anterior e vi que as coisas são construídas dia após dia e não num passe de mágica.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dois coelhos em uma única caixa d'água

Tenho pensado muito sobre a colocação de DIU. A gente não quer não pode ter mais um filho agora, a camisinha já não tem sido tão assídua assim nos nossos encontros calientes e eu me conheço. Sei que, quando o emocional está começando a ficar a fim, o subconsciente nos prega peças. O DIU hormonal parece ser uma boa solução. Prático, com risco baixo, eficaz. Fora o pânico medinho que tenho da dor da colocação e o custo, estamos decididos.
Agora, se não for ele, vai ter que ser outra coisa hormonal. Pílula, implante, bomba. ANYTHING. Porque nem deus aguenta essa TPM do cacete, essas cólicas haikiri, essa cara/corpo cheio de espinhas, esse fluxo Rio Amazonas. Chega.



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Aô, gostoooooosa!

Uma das consequências de ter cada vez mais contato com esse mundo de gestação, parto, criação de filhos é o contato 'indireto' que a gente acaba tendo com discussões maiores sobre o universo feminino (ou não): abortos, direitos reprodutivos, estupros, violência doméstica, opção sexual, casamento gay, blablablabla. E aí, coisas que eu nem parava para pensar, passaram a fazer parte de discussões diárias com amigos e família. O que é MUITO legal.

A teoria que eu mais concordo e acredito atualmente (porque a ideia de discutir, ler e ter cada vez mais acesso às opiniões é estar sempre evoluindo e aprendendo) eu chamo de "O mundo que temos para hoje". Explico-me, e uso como exemplo o estupro, ok?

Concordo absoluta e totalmente com a ideia de que a culpa do estupro é apenas do estuprador. Não é a roupa da mulher, não é a quantidade de bebida alcoolica que ela bebeu, não é o lugar ou o horário que ela anda, sozinha ou não. Eles não tem direitos sobre os nossos corpos; e cantadas, "passadas de mão", estupros ou outros abusos são todas formas de violência e desrespeito total à mulher, sua autonomia e seu corpo. Não devemos ter que ensinar as meninas a tentarem não ser estupradas, temos que ensinar os meninos a não estuprar.
Pois é. Temos. Mas não podemos fazer só isso. Não agora. Não nesse mundo como está. O cara tem direito de estuprar uma menina na balada só porque ela está bêbada? Não, não tem. Ele vai deixar de fazer só porque isso é errado? Não, não vai. Portanto, a menina tem sim que se defender. Tem que prestar atenção onde anda, com que roupa anda, como 'se comporta'. INFELIZMENTE. É o mundo que temos para hoje.
Vocês acham que eu gosto de ensinar para minha filha que ela precisa tomar cuidado com pessoas más? Que podem machucá-la, e muito? E que às vezes ela vai ter que se censurar um pouquinho, para chamar menos a atenção dessas pessoas e para ficar mais protegida? Eu não gosto, não acho certo, e fico extremamente confusa sobre como vou fazê-la entender que ela não deve ter vergonha do seu corpo, nem deve aceitar ser tratada como objeto, mas que ao mesmo tempo ela deve fechar as perninhas quando sentar perto de desconhecidos porque eles podem 'fazer coisas ruins com ela'.

Vou usar como exemplo uma situação que aconteceu em casa nessa semana. Meu marido estava dirigindo pela cidade e passou por um parque frequentado por muitas pessoas se exercitando. Uma das 'atletas de verão' era uma moça, caminhando pelo parque, com uma roupa minúscula. Absolutamente todo e qualquer motoqueiro que passava dava uma buzinhadinha escrota e gritava coisas nojentas. Ela ficava brava e xingava todos eles. E a gente começou a conversar sobre isso.

Acho que tem duas coisas importantes sobre esse caso:

1) A linha entre "Uso essas roupas porque estou com calor/gosto/acho bonito/me sinto bem/foda-se o motivo" e "Uso essas roupas porque quero ser gostosa e desejada pelos homens, ou seja, um objeto sexual a serviço deles" é MUITO tênue. Pra mim, a própria moça não sabe bem o porque de usar essas roupas. Eu não tenho absolutamente nada a ver com os motivos dela. Ela não me deve satisfações. Todo mundo tem direito de querer ser atraente, fazer sexo por sexo mesmo, usar roupas exclusivamente para sedução. Mas me preocupa o quanto está claro na cabeça dela se o uso dessa roupa é por ela ou pelos outros. Eu a vejo (de fora, ok, sem conhecer de verdade, fazendo apenas um pré-julgamento) como a tal mulher machista. Aquela que se posiciona como o objeto que os homens vão consumir. As Panicats que tanto me incomodam, sabe?

2) Ela não fez nada de mais ou fora do direito dela, mas era óbvio que isso ia acontecer. Por mais que seja errado os babacas assediarem qualquer coisa que se move, eles vão continuar fazendo isso. E apesar de ser uma atitude que vai contra a luta feminista, se os assédios incomodam tanto, dá uma aumentada no tamanho do shorts para não se estressar. Gente, não estou dizendo que a gente tem que se anular, parar de vestir o que gosta, perder nosso direito. Tô dizendo que algumas vezes temos que nos adaptar ao mundo que está aí. É o caso do 'infelizmente tenho que ensinar minha filha a se proteger porque esse mundo é um lixo e não vai mudar de hoje para amanhã, por mais que se queira'.
O Fabio diz que a atleta de verão "não tem moral para reclamar, porque saiu vestida desse jeito". Apesar de eu entender o raciocínio - de que ela foi ingênua se realmente achou que isso não ia acontecer - o jeito que ele expõe o que pensa é errado, porque ela tem moral para reclamar. Afinal, ela veste o que quer e não é obrigada a ser vítima de homens idiotas. Pode e deve reclamar. É reclamando, muitas mulheres, milhões de vezes, que as coisas vão começar a mudar um pouquinho. Apesar de que, tenho certeza, que os motoqueiros ouviam os xingamentos e pensavam "Ahn, ela se faz de difícil, mas é safada, se veste assim porque gosta."


São duas lutas paralelas: a luta do mundo ideal e a luta do mundo real. A luta do mundo ideal vai pra rua mostrar que podemos vestir o que nos der na telha e que ninguém (nem homens, nem pais, nem igreja, nem escola, nem NINGUÉM) tem direito de desrespeitar isso. E tenta mudar os hábitos, as crenças, fazer o assunto entrar em pauta. Mas a luta do mundo real é aquela que tenta diminuir as estatísticas ali, no chão de fábrica, no dia-a-dia. Se protegendo. E isso vale para todas as causas.

É errado os torcedores do time X saírem na porrada com o torcedor do time Y só porque eles torcem por times diferentes? Muito. Isso deve mudar? Sem dúvida. Vamos fazer protestos, baixar leis, fiscalizar, colocar o assunto em pauta. E sim, vamos evitar sair de casa com a camisa do time favorito se estivermos sozinhos perto de onde fica a torcida do time rival. Infelizmente.

E assim por diante...



Pode ser que tudo isso o que eu estou pensando e defendendo é, no fundo, o retrato do meu próprio machismo/preconceito, do quanto eu não tenho coragem de mudar as coisas e do quanto eu sou submissa a idéias antigas, reacionárias (não sei usar essa palavra direito) e elitistas. Quem sou eu para falar de machismo, racismo, homofobia, ou qualquer outro desses preconceitos?

Me vejo como alguém que está pensando e discutindo sobre tudo isso, mudando a própria opinião aos poucos e tentando ver o lado do outro. Acho que ao menos isso é uma vitória.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vamos fazer uma horta?



Faz algum tempo que eu incorporei a filosofia do "Semente só cresce em solo fértil", então parei de ficar por aí bradando as minhas convicções e opiniões sobre gestação, parto e criação de filhos. Eu me atenho a conversar com quem está a fim, se mostra aberto a conhecer e também não aceita tudo como verdade absoluta. Ou seja, CONVERSA sobre o assunto, troca ideias, aprende e me ensina.
Só que mesmo nesses casos eu tenho tomado na cabeça. Acho muito ridículo engraçado. Já aconteceu duas vezes e suspeito que vão acontecer mais um monte delas.
Ou a pessoa me manda um email porque conheceu esse digníssimo-não-frequentado blog, gostou do assunto e resolveu trocar ideias; ou rola uma conversa pessoal mesmo e a gente troca endereços de email e telefones. Todas as vezes eu fico empolgadéeeeezima e "se fodo", né? Escrevo aqueles emails tamanho Bíblia - versão com comentários do diretor, com uma CARALHADA de dicas. E NUNCA recebo resposta. Nem um "Ok, obrigado", que quer dizer "Cala a boca sua louca". Juro que eu gostaria de receber até mesmo o "Cala a boca, sua louca", porque isso geraria discussão e troca de opiniões. Mas não. Na-da.
Gente, num cunsigu entender. Juro. Eu acredito que, se você não quer pitaco ou ajuda de outras pessoas, não deve pedir, né não? Ou ainda, se você realmente quer ajuda, peça. Mas aí, caso as respostas e ideias que você recebeu não te agradam, simplesmente agradeça e não aplique essas coisas na sua casa.
Eu não dou ordens pra ninguém, nem espalho a única verdade absoluta. Eu divido o que eu aprendi e as coisas que eu concordo, mas ninguém precisa concordar com elas. É uma questão de trocar ideias e aprender juntos, não é?

É normal e desejado que existam opiniões contrárias e ideias diferentes no mundo. Ninguém quer ser robô, igual a todos os outros. Apenas com a troca de ideias e opiniões que a gente cresce, aprende, evolui. Por isso fico frustrada demais quando empolgo com a possibilidade de ter essas conversas mas elas não acontecem. Acho que o segredo é não empolgar tanto.


Pelo menos eu posso dizer que já tive a experiência contrária. Já contagiei um monte de gente a conhecer mais sobre o assunto e a mudar várias opiniões antigas. Estou presenciando uma amiga lutar por uma gestação, parto e criação respeitosas para sua pequena, e isso me mata de alegria.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

On vacation

Juju está de férias. E hoje em dia, como só as crianças tem férias 2 vezes por ano, os pais que trabalham tem que rebolar para passar por esse período. Planejamento é tudo!
Aqui em casa temos a vantagem do Fabio não trabalhar fora o dia todo, coisa que já é aproveitada em todos os meses que tem aula. Então nosso esquema está relativamente tranquilo.
Em dezembro, até a parada para Natal e Ano Novo, o Fabio trocou os horários no trabalho e cuidava dela de manhã, para que minha mãe ficasse com ela a tarde. Depois tivemos férias coletivas de 10 dias, então ficamos com ela e passamos pelo período de festas. Agora em janeiro minha mãe está de férias, então cuida dela nos dias em que o Fabio trabalha. No final do mês, quando que ela volta a trabalhar mas a Ju ainda está em casa, voltamos ao mesmo esquema de dezembro. Até que as aulas comecem em fevereiro e a vida volte à programação normal. Em julho a previsão é que ela fique no curso de férias da escola na primeira quinzena e que eu tire férias na segunda. E assim vamos tocando a boiada, ano após ano.


Passadas as dificuldades de logística, a gente entra num período de entender os próprios limites. O quanto a gente se permite permitir. Isso porque férias é, por definição, um momento de fazer coisas que não fazemos durante o ano. Coisas gostosas, mas um tanto 'proibidas'. Comer porcaria, dormir tarde, assistir TV. E é importante que a criança tenha a noção do que são regras e do que é poder quebrá-las de vez em quando.

E eu tenho saído melhor que a encomenda, viu? Não sei se porque eu já venho 'relaxando' com a criação da Julia antes mesmo das férias ou se porque eu realmente defini na minha cabeça o que não vejo problema em permitir que ela experimente nessas férias, ou uma mistura dos dois. Mas eu estou vendo ela curtindo HORRORES e a minha culpa continuar zerada. E isso é tão gostoso!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

As mina pira.

E aí eis que Julia brincava na sala da casa da avó. E o tio dela assistia um programa dominical, onde um pagodeiro/axezeiro/sertanejeiro/funkeiro cantava uma música na qual as mina pira, e as mina bombadona no palco do tal programa, com saias minúsculas e bundas gigantescas, dançavam daquele jeito vem-ni-mim-que-tô-facim. E em questões de milésimos de segundos, a Ju começa a imitar tudo o que vê. DESESPERADOR. Como faz pra proteger ela disso, gente? COMO FAZ???

Mas sabe o que é pior? Que depois de assistir uns trechos do Pânico na Band no dia anterior, sua mente se divide em duas. A parte principal, aquela que você dá valor e espera que seja a mais forte e importante, fica horrorizada e revoltada com o jeito que a mulherada gosta de ser objeto, produto, com o quanto a gente ainda tem que avançar nesse mundo. E a outra parte, aquela mais irracional, sentimentalista e idiota, entra em depressão e vai dormir num bode extremo, se sentindo horrorosa, fedida e um lixo, porque teve a auto estima destruída por aquelas mulheres lindas.

Que credibilidade eu vou ter para ensinar para ela que aquilo não está certo, se ao mesmo tempo eu tenho vontade de ser como elas, me sinto diminuída por elas e fico querendo trocar de corpo porque acho o meu horrível? Moça, EU sou machista.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Hoje é um novo dia, de um novo tempo que começou.

Nesse ano eu gostaria de escrever mais. Isso sempre foi uma coisa que eu gostei de fazer, eu tenho esse espaço aqui e, mesmo sem ter gente lendo, é besta deixa-lo abandonado, certo? Acontece que, pela falta de costume, não sei sobre o que escrever. Devo ter vários assuntos, várias ideias (será?), mas agora estou sem ritmo de jogo. Então vou apelar para o clichê e falar sobre as metas para 2013.


1) Escrever mais.
2) Acertar as finanças.
3) Limpar os emails, o computador, o Facebook, os armários.
4) Retomar o rumo na criação da Ju, em coisas que foram 'afrouxadas'. Mas sem extremismo.
5) Cuidar do relacionamento.
6) Não ter mais compromissos marcados que tempo disponível.
7) Fazer ioga todas as manhãs que conseguir.
8) Atingir a meta do mínimo de 2 anos amamentando.
9) Voltar a estudar, para se atualizar profissionalmente.
10) Cuidar dos amigos e ser cuidada por eles.
11) Passear.
12) Voltar a doar sangue.
13) Comprar umas roupas e sapatos bacaninhas. Doar os velhos.
14) Ler muito mais.
15) Receber bem o que vier, mesmo que seja totalmente fora do planejado.


Ótimo ano a todos!