sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Porta número 1, porta número 2 ou porta número 3?



Esse desenho bacana está correndo algumas redes sociais, vindo tanto de mães que trabalham fora quanto de mães que não trabalham. E a palavra da vez é 'escolha'. É uma questão de escolha abrir mão da carreira, de mais conforto, de uma vida social mais ativa, para criar os filhos de perto. E é uma questão de escolha não abrir mão disso tudo, mas estar presente e atenta a eles mesmo assim, tomando as decisões, participando do dia-a-dia da escola, fazendo o tempo juntos ser de qualidade.
É mesmo escolha. Mas escolhas são feitas com as opções e possibilidades que temos nas mãos, certo? Acho o processo de escolha desse caso específico muitíssimo injusto... Olhem bem as opções disponíveis para as mulheres brasileiras atualmente:

CUIDAR DOS FILHOS
A mulher consegue acompanhar de perto a primeira infância dos seus bebês, não os terceiriza para escola ou babá ou avós. Em contrapartida fica à margem do mercado de trabalho, tendo extrema dificuldade de recolocação quando considera que pode voltar a procurar um emprego. Além disso, é discriminada pela sociedade por ser 'vagabunda', 'só mãe', 'ficar em casa sem fazer nada' e 'viver às custas do marido'. Isso sem falar na queda considerável nos rendimentos da família, fazendo com que o estilo de vida caia bastante para manter a mãe 'que não é produtiva'.

VOLTAR AO TRABALHO AO FIM DA LICENÇA MATERNIDADE
A mulher pode voltar ao mercado, ajuda no orçamento doméstico, se mantém competitiva. Mas em troca precisa delegar os cuidados do seu filho a outra pessoa quando ele tem apenas 4 meses de idade, não tem estímulo a manter a amamentação e é interpretada como 'fraca' quando sofre por ficar separada do filho pequeno.


Se eu pudesse escolher MESMO, escolheria ficar com a Julia até ela completar 2 anos de idade, com apoio da sociedade e do Estado. Depois voltar a trabalhar por meio período até ela completar 7 anos, dando início a vida escolar de fato, conseguindo me atualizar e retomar a carreira sem muitos problemas, precisando apenas de dedicação.

Mas isso está longe de acontecer nos próximos anos ou décadas. Aí eu acabo sendo obrigada a 'discordar' do texto dessa ilustração, que diz que algumas mães escolhem a primeira opção "PARA produzir seres humanos melhores", como se uma coisa fosse dependente da outra, como se quem escolheu a segunda opção não estivesse se esforçando para produzir seres humanos melhores ou não se importasse com isso o suficiente.

Reacionária, eu? Me senti ofendida porque não estou 100% certa da decisão que tomei? Não é exatamente isso.

Eu estou 100% certa da decisão que tomei, mas não fico 100% feliz. Apesar de ter decidido passar mais de 10h por dia, 5 dias por semana longe da Julia conscientemente, continuo achando que não é certo mãe e filha terem que passar por isso. Continuo achando que o governo que me fala para amamentar exclusivamente até os 6 meses de idade do meu bebê ser o mesmo que me manda de volta ao trabalho quando o bebê tem 4 meses de idade é um governo absurdo. Continuo amando a chance que a Ju tem de ir para uma escola fantástica, por apenas meio período por dia, e poder ficar na sua casa, com seu pai, durante a tarde, mas ao mesmo tempo continuo tendo MUITO ciúme e inveja dele. Continuo achando que fico sobrecarregada, assim como o Fabio, para tentarmos não terceirizar a educação da Ju, controlarmos a alimentação, o que ela vê/ouve/conhece, rotina, tempo com os pais.

Escolher não é fácil.

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