Uma vez li por aí (acho que foi no Mamíferas) que não existe aquele momento sublime que marca o grande ensinamento do pai/mãe para o filho/filha. Que os ensinamentos acontecem a cada dia, todos os momentos, com os erros e acertos dos pais. Sábado foi um dia que me mostrou exatamente isso.
Saímos a manhã toda com a Ju, almoçamos na rua e, na volta, ela dormiu no carro. Era o planejado, assim ela dormiria no horário certo. Só não contávamos com a possibilidade dela acordar ao ser tirada do carro e não voltar a dormir. Eu fico FRUSTRADÉZIMA quando isso acontece. Quer me ver brava que nem o cão é não me deixar dormir (sim, eu ia tirar um cochilo junto com ela). E, como ela é minha filha, também não é a pessoa mais bacana do mundo quando está com sono. Imagina o clima que imperava na nossa humilde residência.
A menina fez cocô, não queria trocar nem com reza. Eu com aquela paciência que deus me deu. Acabei segurando, tentando trocar a força, ela gritando, se virando, forte pra burro. Eu dei uma espécie de 'chacoalhão', ela assustou e começou a chorar de verdade.
Não foi o bater clássico - levanta-a-mão-e-dá-um-tapa - mas, na minha cabeça, foi. Me sinto um lixo, me odeio com toda a força da humanidade. Tentei não piorar a situação dando muita atenção pro fato, com um 'Aaaaiiii, filhiiiiinha, descuuuuuulpa! abraço-beijo-colo', porque acho que isso não resolve o problema e o trata como se fosse banal. Continuei trocando a fralda, mas calada, já me controlando, com um nó na garganta e outro no peito. Só depois que consegui terminar de trocar, peguei ela no colo e expliquei, pedi desculpas e o escambau. E fiz tudo isso achando que não adianta porra nenhuma.
Que ódio de mim! Eu sou a adulta, eu tenho o controle, eu que devo mostrar o que está certo e errado. E faço ISSO?
Mas nada como o tempo, né? Oportunidades de agir diferente, de melhorar, nunca vão faltar. Então chegou a hora de dormir. E começou a enrolação de sempre. Ela pediu pra nanar, mamoumamoumamoumamou, não conseguiu, se levantou, foi pra sala, começou a andar pela casa. Nitidamente com sono, bravamente lutando contra ele.
Eu mantive a casa escura, disse que era hora de dormir. Ela foi para a cozinha e pediu um pedaço de papel toalha para limpar alguma coisa (de vez em quando baixa o espírito da Amélia). E eu, calmamente, desci na altura dela e disse que não ia dar, que aquela era a hora de dormir. E ela chorou. Chorou, deitou no chão, chorou, se jogou, chorou. E eu continuei da lado dela, dizendo que não daria o papel, que entendia o que ela queria, mas que não daria por não ser hora de brincar. E ela chorando.
Tentei fazer carinho e ofereci colo, ela não quis, estava muito brava. Então eu disse que ela poderia ficar brava comigo, que nao tem problema sentir isso, e que eu iria ficar na sala para não incomodá-la e esperar o momento que ela quisesse meu colo. Fui, sentei lá um pouco, e voltei (não aguento muito tempo). Novamente ofereci colo, ela aceitou, ainda chorando de frustração. Sentamos no sofá, ela mamou chorando um pouco, mas mostrando que entendeu que, apesar de não dar tudo o que ela quer, eu sempre darei apoio para ela afogar as frustrações, raiva e todos os sentimentos que vierem. Mamou e dormiu em seguida.
Fiquei TÂO feliz! Lidei exatamente da forma que eu gostaria de lidar com todas as crises. Vi que eu sou capaz e que essa abordagem só tem vantagens para nós duas, diferente da outra que 'experimentamos' antes. Mas principalmente me perdoei pelo deslize anterior e vi que as coisas são construídas dia após dia e não num passe de mágica.
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