segunda-feira, 4 de março de 2013

Ironias da vida moderna

Nesse fim de semana eu fiquei na casa da minha mãe, porque precisei levar trabalho para casa e lá eu poderia trabalhar sossegada enquanto ela cuidava da Julia, sem ter que realmente me afastar dela. Às vezes eu parava um pouco, dava tetê, brincava, dava atenção. Mas consegui me dedicar bastante ao trabalho e quase finalizar tudo o que tinha planejado. Mas vendo a Julia curtindo o fim de semana na casa da avó e juntando com o que tenho pensado sobre a necessidade de ter escolas para crianças que na verdade ainda são bebês, vi o quanto a vida atualmente é ridícula irônica.

Na casa da minha mãe, a Julia participou ativamente da rotina da casa. Ajudava a vovó a "fazer papá", ia colher frutas no quintal com o vovô, tirava um cochilo com o pai a tarde, ia no mercado comprar comida, ajudou a tirar roupa do varal, correu pelada pelo quintal com o tio, ajudou o avô a consertar algo que estava quebrado na casa.



Colhendo pimentas com o vovô


Como nossa escolha por educação infantil não foi feita buscando que a Julia fale 72 línguas e domine todas as plataformas tecnológicas aos 4 anos, além de contar até 1.000 de trás para frente e ser alfabetizada antes dos 3 (exageros a parte, ok?), o dia a dia na escola é muito parecido com esse fim de semana na casa da avó. A escola, no nosso caso, procura reproduzir a casa da criança, o ambiente que ela se sente confortável, segura e familiarizada para explorar e aprender.

É aí que se encontra a ironia da vida. Na escola a Julia ajuda e participa da preparação das refeições, brinca no jardim, no balanço na árvore, brinca com as outras crianças, manipula os utensílios domésticos, vê as professoras e auxiliares cuidarem da casa, das crianças, do ambiente, cria rituais e hábitos, uma rotininha toda deles. Ela teoricamente reproduz a casa dela. Mas só na teoria. Porque, na verdade, ela substitui o que a casa dela deveria ser pela escola.

Eu não cozinho, não cuido da casa, não faço as refeições com ela, não tenho jardim nem quintal, não participo dos pequenos rituais diários. Eu trabalho fora, para poder pagar uma escola, onde ela finge que está em casa. Por trabalhar e não estar em casa, não tenho tempo de cozinhar ou cuidar da limpeza e administração do lar. E aí eu tenho que trabalhar mesmo, para poder pagar essas pessoas que cuidam da minha casa para mim.

Aí todos os dias corremos para levar a Ju para um lugar que ela vai fazer o que deveria fazer na sua casa, depois corremos para buscá-la, para ela dormir em casa e voltar para esse lugar no dia seguinte. Corremos no fim de semana para cuidar das coisas da nossa casa e família, mas não podemos tomar conta de forma mais próxima do lugar que a gente vive, das nossas roupas, da nossa comida. E só corremos no fim de semana porque durante a semana estamos fora, trabalhando, para que a gente consiga pagar essas pessoas, para podermos trabalhar e ter a necessidade de ter essas pessoas. Oi???

Juro que, olhando assim, de forma crua, não faz o menor sentido.

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