segunda-feira, 22 de abril de 2013

O PAI
Acorda rapidamente algumas vezes durante a noite, com a movimentação da Mãe e da Filha.
Sai da cama as 5h30 da manhã, sai para trabalhar as 6h15. Vai a pé ou de bicicleta para o trabalho.
Trabalha das 6h30 as 12h15. Almoça em 15 minutos.
Deixa a Mãe no trabalho dela e vai para o segundo emprego. Entra as 13h00.
Trabalha das 13h00 as 17h00.
Busca a Filha na escola as 17h15. Vai para casa brincar com ela ou vai resolver alguma pendência doméstica, como ir ao mercado.
Aguarda a ligação da mãe e vai buscá-la no trabalho. Eles vão para casa, cuidam da Filha (brincadeiras, banho, rotina do sono) até que ela durma, normalmente tarde da noite.
Volta ao trabalho, dessa vez em casa, até por volta das 00h00. Vai dormir.

A MÃE
Acorda algumas vezes durante a noite para amamentar a Filha. Tenta não acordar o Pai, mas quase nunca consegue.
Sai da cama as 6h30, se arruma. Acorda a Filha as 7h15, a arruma. Sai de casa as 7h45.
Deixa a Filha na escola as 8h00 e vai para o trabalho. Termina de se arrumar por lá.
Trabalha das 9h00 as 12h00. Almoça em 20 minutos, vai buscar o Pai no trabalho. Ele a deixa no trabalho novamente.
Trabalha das 13h00 até a hora que for preciso, algumas vezes até as 18h00, outras até mais tarde. Chama o Pai quando já pode voltar para casa.
Ele e a Filha a buscam e vão para casa. Junto com o Pai, a Mãe cuida da Filha (brincadeiras, banho, rotina do sono), amamenta diversas vezes, até que ela durma, normalmente tarde da noite.
Organiza as refeições do dia seguinte, arruma a bolsa que a Filha leva para a escola, dá uma olhada nas correspondências, compromissos e tarefas pendentes.
Algumas vezes volta ao trabalho, dessa vez em casa, outras aproveita para estudar, até por volta das 00h00. Vai dormir.

A FILHA
Acorda algumas vezes durante a noite para mamar e ficar perto da Mãe.
Acorda com a Mãe a enchendo de beijos. Pergunta onde está o Pai, e aí lembra que ele está no trabalho.
Não quer muito fazer as coisas que a Mãe pede, nem no ritmo que ela pede. Algumas vezes aceita, outras não. Sente o stress, ouvindo repetidamente "Filha, estamos atrasadas".
Passa o caminho até a escola brincando com a mãe, que dirige o carro e tenta dar atenção para a Filha ao mesmo tempo. Chega na escola, às vezes querendo ficar por lá, às vezes querendo voltar para casa. Mas sempre fica por lá.
Brinca, canta, dança, se alimenta, dorme, tem alguns atritos com os colegas. Espera o Pai chegar.
Quando o Pai chega, a Filha o acompanha nos compromissos, sempre brincando. Vai buscar a Mãe e aproveita o pouco tempo que tem com os dois. Luta muito contra o sono, mas acaba dormindo, normalmente tarde da noite.

AS VARIÁVEIS
Nem sempre as noites depois do Pai buscar a Filha na escola e a Mãe no trabalho são assim. Muitas vezes existem compromissos.
A Mãe sai correndo do trabalho, sempre atrasada, e eles deixam a Filha com a Avó. Voltam tarde da noite para buscá-la e levá-la para casa.
Algumas vezes a Filha vai junto com o Pai e a Mãe. É sempre bem tratada e bem cuidada, mas fica confusa com o lugar, as pessoas e as atividades.
Normalmente volta para casa tarde da noite. A Filha sempre dorme no carro. O Pai e a Mãe quase.

OS FINAIS DE SEMANA
Sempre recheados de compromissos. Ir na casa dos avós, fazer compras, limpar a casa, lavar roupas, estudar, tentar descansar um pouco, trabalhar, fazer e pagar contas, ir em aniversários.
O Pai e a Mãe tentam manter a rotina da Filha o menos bagunçada possível e nunca é possível. E a Filha tenta mudar a sua rotina o máximo possível, para aproveitar o tempo com os pais. O choque entre as duas tentativas sempre acaba em mais stress.
Os finais de semana em sua maioria são mais cansativos que os outros dias. Para os três.

O QUE ELES QUEREM
Sossego.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Vila, versão Éricka Khalil Pereira

Sempre que consigo (tempo, carro, dinheiro, saco...) eu participo de eventos e palestras sobre crianças, educação infantil, família, etc. Sempre tem coisa legal para aprender, papos deliciosos para bater, comidinhas gostosas para comer e, quando podemos levar a preta, atividades delícia para curtir. Então lá fui eu no sábado, numa palestra sobre como educar os filhos no mundo de hoje, com uma educadora phoda. Como em qualquer palestra, a gente concorda com algumas coisas, não concorda com outras, aprende um monte de mais outras, o que deixa o papo e a experiência ricos e prazerosos. Mas gente, aquele velho discurso que eu ouço sempre tem me incomodado cada vez mais. Não sei se é pelo tempo que eu o ouço, ou pelo momento que eu estou passando, ou pelas escolhas que tomei e pretendo tomar. Mas incomoda.

Explico-me:
A conversa SEMPRE chega no ponto: o filho é seu, é sua responsabilidade, não se deve terceirizar para escola ou avós ou babás ou televisão ou whatever. Até aí, ok. Concordo. Então vão surgindo exemplos: comer com seu filho, com calma, participando da refeição; preparar o alimento dele; passear com ele; brincar com ele; fazer as atividades da escola; dormir cedo e acordar cedo; participar do ritual do sono; e tudo aquilo lá que a gente já conhece. E, É LÓGICO, surge a pergunta: "Mas querido palestrante, como fazer isso nesse mundo que vivemos? A gente trabalha muito, tem pouco tempo, está sempre correndo." E a resposta é, basicamente: "Encontre tempo. Trabalhe menos. Papai cuide das necessidades da casa enquanto a mamãe fica em casa com as crias, porque a presença da mãe, na primeira infância, é mais importante."
E eu ouço isso TANTO TANTO TANTO que tô querendo mandar tomar no meio do cu. Porque eu PRECISO trabalhar. O Fabio PRECISA trabalhar. Eu não vivo nesse ritmo de merda simplesmente porque eu acho legal.
Mas se eu mando tomar no cu, vem outra resposta que eu sempre ouço: "É uma questão de escolha, néam? Se quiser estar presente na vida dos filhos, tem que abrir mão de alguns luxos e trabalhar de casa, ou deixar de trabalhar, mas ter uma vida com mais qualidade."
Ok, ok, ok, PÉRA LÁ. Luxos. LU-XOS??? Algum de vocês me viu pessoalmente nos últimos 2 anos? Viu meu cabelo ou minhas unhas? Ou minhas roupas? Ou viu a minha mansão? Ou meu carro último tipo? Minhas fotos das viagens para a Europa? Rapaputa!
Tenho luxos, sim. Tenho internet e TV a cabo em casa. Estamos cortando a TV a cabo, porque também trabalhamos em casa nas horas vagas (olha que legal) e precisamos da internet. Vai mudar 100 reais no meu orçamento doméstico. Olha só que solução perfeita, não sei como não pensei nisso antes!
Eu também passeio bastante. Isso é verdade. Vou no cinema ou teatro ou jogo de futebol quando consigo ingresso de graça. Vou em eventos infantis (origem do post, né?) que são com um custo mais ou menos acessível, quando eu não aguento mais ficar só ralando e acho justo eu ter algum jeito de melhorar a vida da gente com um programa gostoso e informações importantes. Também vou em churrascos na casa dos pais e dos sogros, bancados por eles, claro. Viajo para a casa da tia quando consigo carona no carro.
Tenho uma faxineira 1 vez por semana, porque é a única vez que minha casa vê uma vassoura. E tenho alguém para cozinhar e congelar nossas refeições, porque da meia-noite as 6h eu tento dormir, mesmo com os intervalos das mamadas.
Ahn, esqueci. Eu tenho plano de saúde. Um puta dum luxo querer não depender do SUS, né, minha gente?

Peço mil desculpas as minhas amigas, mas TODAS as que eu conheço que fizeram essa escolha tem um marido com um emprego bacana que segura as pontas, ou uma mãe/tia/sogra/amante que faz o mesmo papel. EU NÃO TENHO. Tanto a minha renda quanto a do Fabio são muito importantes em casa. A gente paga casa, comida, transporte, saúde, educação, TUDO, com nosso dinheiro. E ainda assim temos um pouco de ajuda dos nossos pais. E ainda assim estamos devendo uma caralhada pros bancos.

Fica foda reduzir o discurso a "Se não for cuidar do jeito certo, não tenha filhos". Eu entendo de onde ele vem e concordo que filhos precisam ser bem criados, que não ter tempo ou dinheiro não é desculpa. Até mesmo porque, dentro das minhas possibilidades, eu e o Fabio fazemos o melhor que a gente pode e um tantão a mais que isso. Mas declarar que "é só trabalhar menos" me tira do sério.

Não, não é só trabalhar menos. Porque o mundo não pode depender só daqueles que conseguiram trabalhar menos, pegar seus filhos e correr para as montanhas, criando uma sociedade alternativa. O mundo precisa que não seja necessário trabalhar tanto. Que a saúde decente seja um direito garantido de verdade. Que educação de qualidade também. E que se tenha mais tempo para conversar com o vizinho, conhecer as pessoas e cuidar das coisas com amor. TODO MUNDO.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Agora o 11 é igual a 24.

Postado ontem pela manhã no Facebook.

E pensar que, dois anos atrás, eu acordava para ter um dia cheio. Passaria a manhã lavando as roupas e cuidando das coisas da nenê que estava por vir. Depois do almoço iria no consultório da médica-anjo-humanizada que nos acompanhava para saber que tudo estava mais que ok, deixaria o marido no trabalho e iria no brechó buscar carrinho e bebê conforto (algo me dizia que não poderia passar daquele dia), carregando barrigão e carga até o carro estacionado a 2 quarteirões da loja. E ainda iria ao mercado, faria compras, carregaria e descarregaria o carro, guardaria as compras, para só depois buscar o marido no trabalho. Tudo isso com contrações contínuas, um tanto incômodas, mas que na minha cabeça não queriam dizer nada de mais.
Durante a noite o TP realmente engrenaria, as 5h da manhã as dores viriam com tudo (põe tudo nisso), as 7h a doula chegaria em casa, as 8h30 a médica descobriria apenas 1cm de dilatação e um colo fino feito papel. Nos deixaria em casa para nos buscar depois do almoço e irmos juntos ao hospital.
E, por volta das 11h, com uma única força, Juju surpreenderia a todos, nascendo ali no banheiro, dentro da privada, com o pai e a doula assistindo, a mãe com a maior cara de WTF que alguém pode fazer.
Dois anos. Parece pouco, mas é um mundo inteiro. Daquela sensação indescritível (de tão deliciosa) para a manhã de hoje, trocentas coisas aconteceram. Aquele pacotinho que caiu na privada agora anda, fala, tem senso de humor, opinião, preferências. Canta e dança o dia todo, brinca, come feito o Godzila. Nos fez aprender, tomar decisões, repensar sobre respeito, cuidado, amor, família, futuro, prioridades, cansaço, falta de grana, comprometimento.
Para quem pensa em ter filhos, recomendo de olhos fechados. Porque a revolução interna que eles proporcionam é linda, rica e necessária.
Mas também recomendo que, ao acordar um dia no fim da gestação se sentindo estranha, não fique quietinha. Vá trabalhar, carregar peso, andar, faxinar. Partos quiabo existem! E, quando a doula disser "Levanta daí", LEVANTE. Banheira de porcelana não é para qualquer um.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Ironias da vida moderna

Nesse fim de semana eu fiquei na casa da minha mãe, porque precisei levar trabalho para casa e lá eu poderia trabalhar sossegada enquanto ela cuidava da Julia, sem ter que realmente me afastar dela. Às vezes eu parava um pouco, dava tetê, brincava, dava atenção. Mas consegui me dedicar bastante ao trabalho e quase finalizar tudo o que tinha planejado. Mas vendo a Julia curtindo o fim de semana na casa da avó e juntando com o que tenho pensado sobre a necessidade de ter escolas para crianças que na verdade ainda são bebês, vi o quanto a vida atualmente é ridícula irônica.

Na casa da minha mãe, a Julia participou ativamente da rotina da casa. Ajudava a vovó a "fazer papá", ia colher frutas no quintal com o vovô, tirava um cochilo com o pai a tarde, ia no mercado comprar comida, ajudou a tirar roupa do varal, correu pelada pelo quintal com o tio, ajudou o avô a consertar algo que estava quebrado na casa.



Colhendo pimentas com o vovô


Como nossa escolha por educação infantil não foi feita buscando que a Julia fale 72 línguas e domine todas as plataformas tecnológicas aos 4 anos, além de contar até 1.000 de trás para frente e ser alfabetizada antes dos 3 (exageros a parte, ok?), o dia a dia na escola é muito parecido com esse fim de semana na casa da avó. A escola, no nosso caso, procura reproduzir a casa da criança, o ambiente que ela se sente confortável, segura e familiarizada para explorar e aprender.

É aí que se encontra a ironia da vida. Na escola a Julia ajuda e participa da preparação das refeições, brinca no jardim, no balanço na árvore, brinca com as outras crianças, manipula os utensílios domésticos, vê as professoras e auxiliares cuidarem da casa, das crianças, do ambiente, cria rituais e hábitos, uma rotininha toda deles. Ela teoricamente reproduz a casa dela. Mas só na teoria. Porque, na verdade, ela substitui o que a casa dela deveria ser pela escola.

Eu não cozinho, não cuido da casa, não faço as refeições com ela, não tenho jardim nem quintal, não participo dos pequenos rituais diários. Eu trabalho fora, para poder pagar uma escola, onde ela finge que está em casa. Por trabalhar e não estar em casa, não tenho tempo de cozinhar ou cuidar da limpeza e administração do lar. E aí eu tenho que trabalhar mesmo, para poder pagar essas pessoas que cuidam da minha casa para mim.

Aí todos os dias corremos para levar a Ju para um lugar que ela vai fazer o que deveria fazer na sua casa, depois corremos para buscá-la, para ela dormir em casa e voltar para esse lugar no dia seguinte. Corremos no fim de semana para cuidar das coisas da nossa casa e família, mas não podemos tomar conta de forma mais próxima do lugar que a gente vive, das nossas roupas, da nossa comida. E só corremos no fim de semana porque durante a semana estamos fora, trabalhando, para que a gente consiga pagar essas pessoas, para podermos trabalhar e ter a necessidade de ter essas pessoas. Oi???

Juro que, olhando assim, de forma crua, não faz o menor sentido.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vidinha

Acorda, correria em casa. Vai trabalhar, trabalha, trabalha, trabalha. Nem almoça fora porque não tem dinheiro, come marmitinha, levada de casa.
Trabalha, trabalha, trabalha. Nessa, fica pelo menos 10h longe da filha.
Volta pra casa, cuida de coisas da casa (mercado, louça, roupa, criança, janta, conta). Faz a criança dormir já sem um pingo de paciência. Toma banho, janta.
Volta pro computador para trabalhar. Dorme. Acorda algumas vezes durante a noite para cuidar da criança. E aí começa de novo.
No fim de semana faz uma ou outra coisa mais legalzinha, mas normalmente tem mais compromissos que tempo.
Trabalha pra pagar as contas, mas fica devendo todo santo mês.
Medo. Medo do trânsito, de assalto, de desemprego, de sequestro, de falta de educação, de poluição, de doença, de crise econômica.
Cansaço. Tudo atrasado, devendo pro banco. E ainda tem que ter pique para brincar, para estudar, para transar.

E o pior é que tudo isso, na verdade, é bom. É bom porque pelo menos tem emprego, tem casa com luz e água encanada, tem comida, tem escola, tem plano de saúde, tem carro. Tem até uns pequenos luxos. Não é escrava, não é abusada, não está no meio da guerra, não cata comida no lixo, não está acamada.
Sim, no fundo essa vidinha é boa. Por mais que todo dia pareça que não é. Que não dê tesão. Que não tenha sentido. Que seja nada além de uma vidinha.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Porta número 1, porta número 2 ou porta número 3?



Esse desenho bacana está correndo algumas redes sociais, vindo tanto de mães que trabalham fora quanto de mães que não trabalham. E a palavra da vez é 'escolha'. É uma questão de escolha abrir mão da carreira, de mais conforto, de uma vida social mais ativa, para criar os filhos de perto. E é uma questão de escolha não abrir mão disso tudo, mas estar presente e atenta a eles mesmo assim, tomando as decisões, participando do dia-a-dia da escola, fazendo o tempo juntos ser de qualidade.
É mesmo escolha. Mas escolhas são feitas com as opções e possibilidades que temos nas mãos, certo? Acho o processo de escolha desse caso específico muitíssimo injusto... Olhem bem as opções disponíveis para as mulheres brasileiras atualmente:

CUIDAR DOS FILHOS
A mulher consegue acompanhar de perto a primeira infância dos seus bebês, não os terceiriza para escola ou babá ou avós. Em contrapartida fica à margem do mercado de trabalho, tendo extrema dificuldade de recolocação quando considera que pode voltar a procurar um emprego. Além disso, é discriminada pela sociedade por ser 'vagabunda', 'só mãe', 'ficar em casa sem fazer nada' e 'viver às custas do marido'. Isso sem falar na queda considerável nos rendimentos da família, fazendo com que o estilo de vida caia bastante para manter a mãe 'que não é produtiva'.

VOLTAR AO TRABALHO AO FIM DA LICENÇA MATERNIDADE
A mulher pode voltar ao mercado, ajuda no orçamento doméstico, se mantém competitiva. Mas em troca precisa delegar os cuidados do seu filho a outra pessoa quando ele tem apenas 4 meses de idade, não tem estímulo a manter a amamentação e é interpretada como 'fraca' quando sofre por ficar separada do filho pequeno.


Se eu pudesse escolher MESMO, escolheria ficar com a Julia até ela completar 2 anos de idade, com apoio da sociedade e do Estado. Depois voltar a trabalhar por meio período até ela completar 7 anos, dando início a vida escolar de fato, conseguindo me atualizar e retomar a carreira sem muitos problemas, precisando apenas de dedicação.

Mas isso está longe de acontecer nos próximos anos ou décadas. Aí eu acabo sendo obrigada a 'discordar' do texto dessa ilustração, que diz que algumas mães escolhem a primeira opção "PARA produzir seres humanos melhores", como se uma coisa fosse dependente da outra, como se quem escolheu a segunda opção não estivesse se esforçando para produzir seres humanos melhores ou não se importasse com isso o suficiente.

Reacionária, eu? Me senti ofendida porque não estou 100% certa da decisão que tomei? Não é exatamente isso.

Eu estou 100% certa da decisão que tomei, mas não fico 100% feliz. Apesar de ter decidido passar mais de 10h por dia, 5 dias por semana longe da Julia conscientemente, continuo achando que não é certo mãe e filha terem que passar por isso. Continuo achando que o governo que me fala para amamentar exclusivamente até os 6 meses de idade do meu bebê ser o mesmo que me manda de volta ao trabalho quando o bebê tem 4 meses de idade é um governo absurdo. Continuo amando a chance que a Ju tem de ir para uma escola fantástica, por apenas meio período por dia, e poder ficar na sua casa, com seu pai, durante a tarde, mas ao mesmo tempo continuo tendo MUITO ciúme e inveja dele. Continuo achando que fico sobrecarregada, assim como o Fabio, para tentarmos não terceirizar a educação da Ju, controlarmos a alimentação, o que ela vê/ouve/conhece, rotina, tempo com os pais.

Escolher não é fácil.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"... e deve ser mantido até a criança completar 2 (dois) anos de idade ou mais."


Daqui pouco mais de um mês, se tudo continuar caminhando como parece que vai caminhar, a Julia estará na categoria "ou mais". Muito diferente da realidade da maioria das crianças do Brasil e de muitos lugares do mundo. E, por ser diferente, trocentas vezes isso tem que ser "explicado" e "justificado" por mim. No médico, no supermercado, no trabalho, na rua, na chuva, na fazenda. Até na porra da casinha de sapê. Como não tenho lá muita paciência ou obrigação alguma de me justificar, uso a recomendação da OMS.

Pronto! É a explicação da autoridade mundial em saúde. Curta, grossa, efetiva. Científica. Mas parece não ser suficiente. A rebatida que eu levo normalmente é "Mas essa recomendação foi criada pela a OMS para os países pobres, onde as pessoas não tem dinheiro para comprar NAN".

Vamos juntos pensar um pouco sobre essa afirmação? Suponhamos que ela seja verdadeira. Então, seguindo esse raciocínio, é oficial o fato de que as crianças de até dois anos ou mais precisam de algum leite. Ou seja, desmamar (do leite que for) antes dessa idade não é bom.

Aí temos 2 opções:

1) O leite feito especificamente para aquela criança, gratuito, que já vem pronto, não precisa ser carregado, não precisa de acessórios, não acaba nunca.
2) O leite de outra espécie (eca!), produzido com trabalho escravo (acredite, as vacas leiteiras não são fofinhas e felizes como os desenhos das embalagens), que custa caro, precisa ser preparado, precisa de acessórios.

E querem me convencer de que a opção 2 é melhor que a 1? De que a opção 1 é apenas para a população carente e foi criada como política de saúde pública?

Moça, você é phyna. E eu prefiro ser pobre.